terça-feira, 6 de julho de 2010

Roirói - Nosso Bichinho de Estimação

A PACATA HISTÓRIA DE UM HAMSTER

 By Jaimar Martins

No início, eu vivia em um local muito parecido com um aquário, juntamente com vários outros da mesma espécie. Neste período, já tinha os meus hábitos de hamster e costumava dormir muito durante o dia. Durante a noite, quando eu acordava para me divertir, sentia falta de alguns companheiros, porém não tinha idéia do que tinha ocorrido com eles até que chegou o meu dia...

Na tarde do dia 30 de abril de 2007, fui arrancado do meu lar e enclausurado em um local escuro que mais tarde descobri que se tratava de uma caixa de sapatos. Tentei escapar com garras e dentes, pois não tinha ideia do que me aguardava e o instinto de sobrevivência sempre fala mais alto em todas as espécies.

Neste mesmo dia, fui transferido para um lar diferente, no qual teria que viver sozinho até os últimos dias da minha vida, afinal da minha espécie naquela casa era só eu mesmo.

Meu dono Felipe, filho menor da casa, me ganhou de presente de aniversário e me deu o nome de Rói-rói. Achei engraçado, afinal de contas sou um roedor e uma das atividades que mais curto fazer é roer.

No primeiro ano, vivi muito só pois eu era agressivo com todos que tentavam se aproximar de mim. Tinha medo do que eles poderiam fazer comigo! Não posso me queixar da mordomia: água, comida e casa limpinha sempre. Eu tinha o meu brinquedo favorito para as minhas aventuras noturnas e ganhava algumas guloseimas que me davam durante o dia.

Após o primeiro ano, eu resolvi experimentar ser tocado pelas pessoas que moravam nesta casa e descobri que desta forma elas me davam mais atenção, carinho e principalmente guloseimas: biscoitos, pães, frutas, queijo...Ah! Quanta coisa deliciosa. Infelizmente, tinha também o seu lado não muito bom, pois o meu dono juntamente com seu irmão chamado Ícaro, me acordavam a qualquer hora do dia querendo brincar e eu já tinha passado a noite toda brincando e tinha que estar de bom humor.

Me faziam literalmente de gato e sapato. Como pode? Eu fazia parte das guerras do filho maior, me colocavam em carrinhos e saiam me arrastando pela casa, construíam verdadeiras muralhas para que eu transpusesse e chegaram até a construir um labirinto com garrafas pet para me verem passando de um lado para o outro.

Um belo dia, a família me trouxe de presente uma bola com estrutura de plástico e oca por dentro. Para mim foi a maior novidade, pois me permitia explorar a casa toda, era um mundo novo que pude conhecer através do meu olfato, pois não tinha como tocar em nada, muito menos roer. Amava ficar passeando por cada canto da casa até cansar. Muitas vezes, passei horas em algum canto quietinho dormindo, esperando que me devolvessem ao meu lar. Ah! Esqueci de comentar que o único ponto que não curti muito neste transporte foi a cor da bola. Advinhem? Era rosa, mas eu tenho certeza absoluta que foi por falta de opção, pois eles sabiam da minha masculinidade!!!

Nos finais de semana, como a família ficava acordada até mais tarde, podiam compartilhar um pouco da minha vida noturna e ficavam felizes de me verem rodando sem parar. O que eles não sabiam era que eu tinha um plano de ganhar a maratona anual de corrida dos hamsters, mas esse sonho acabou ficando para outra vida!

A primeira viagem da família, no final de 2008, me fez conhecer o sentimento de verdadeira solidão: era muito silêncio! Mas, o pior era que a empregada da casa aparecia apenas uma vez por semana para cuidar das minhas necessidades básicas e fiquei a base de apenas ração por dias infindos.

Na segunda viagem de todos, eu já estava bem mais velho e acabei sentindo muito mais falta deles. Aconteceu no natal de 2009! Lembro que quando o pai e a mãe da casa retornaram, ela ficou assustada com a ausência de água e comida...foi por pouco que quase morri de inanição! A mãe me compensou por alguns dias, mas no carnaval a família toda resolveu viajar novamente.

Acredito que por sentimento de culpa, encheu o meu pote de ração e colocou muitos biscoitinhos de coco espalhados pela minha casinha. Nem eu, nem ela imaginávamos o quanto aquilo em excesso poderia me fazer mal!

Ela achou que eu iria comer aos poucos. Doce engano, eu comi até não agüentar mais, pois aquilo era muito delicioso. Quando ela retornou, eu não parava de fazer xixi com sangue...e como doía! Em exatos quatro dias, o hamster gordinho que eu tinha me tornado e que mal cabia na rodinha de diversões, pois parte do meu corpo rodava e a outra parte ficava de fora, ficou em pele e osso. Podem acreditar!

Achei realmente que tinha chegado a minha hora e ficava quietinho esperando a dona morte aparecer. Quando a mãe viu que eu estava sofrendo muito, resolveu me levar junto com o pai para um passeio noturno na famosa caixa de sapatos.

Neste local onde fomos, chamado clínica veterinária, uma moça alta, loira e vestida de branco me atendeu e comentou que eu estava sofrendo de uma inflamação nos rins e que provavelmente deveria ter sido por excesso de alimentação indevida: advinha? os tais biscoitos...Ela comentou também que eu estava muito velho para qualquer intervenção cirúrgica e acabou aplicando uma injeção enorme que doeu muito, mas nada se comparado ao sofrimento que vinha sentindo. Enfim, ao voltar para casa, pude ter finalmente uma noite mais tranquila.

Pela manhã, pai e mãe me aplicavam algumas gotas que me fazia sentir vontade de beber água, mas era só, pois minha urina continuava com sangue. Voltamos a visitar a tal clínica e este seria o meu último passeio. Ao chegar lá, como o meu organismo não estava reagindo como deveria, acabei ficando internado por 3 dias. Pensei até que iria morrer longe da minha casinha, mas consegui realmente sobreviver neste período.

O meu fim estava próximo e eu sentia isso e todos pareciam perceber o mesmo, pois fora os cuidados básicos, já não me davam mais atenção e, guloseimas nem pensar, pois a tal médica tinha proibido. Para completar, ainda trouxeram para a casa um novo bichinho: era uma calopsita, cujo nome ouvi ser Bud e que se já não bastasse toda a atenção que tinha, ainda veio me incomodar nos meus últimos dias fazendo barulho no meu lar!

Nos meus últimos dias, dei um trabalho enorme para a mãe, pois já não tinha mais noção de espaço, sujeira, de nada mesmo. Ela era obrigada a limpar todos os dias, pois no dia em que por algum motivo não conseguia, o meu “doce lar” virava a pior imundície, quase impossível de se morar! Os meus últimos dias veio com uma caganeira...Enfim, foi a mãe que me encontrou durinho da silva, no dia 28 de maio de 2010.


O que posso registrar é que simplesmente aconteceu e ao longo dos meus mais de 3 anos de vida, agradeço a todos aqueles que me proporcionaram mais esta experiência na Terra, principalmente ao meu dono Felipe. Eu posso dizer que fui um hamster sozinho, mas feliz, muito feliz!

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